29/08/2013
Por Ana Russi
Na semana passada, fomos conferir o show do grupo Samburá, de Itajaí – cidade que já tem tradição na formação de instrumentistas competentes, por conta da existência do conservatório municipal e da diversidade acadêmica oferecida nesta área.
Foto: Ana Russi |
- No Busão
- Do Mar
- Hermeticamente Cipozístico
- Ecos da Mente
- Samba Hum
- Cabeça de Baião
- Boi de Papaia
- Inquietação Mental
Há boas justificativas para os shows instrumentais existirem, para
além da simples razão de reunir músicos eficientes: é um tipo de apresentação
que valoriza o instrumento como objeto essencial para o fazer musical, ao mesmo
tempo em que reconhece o grupo como
um todo, sem colocar ninguém à sombra de estrelismos individuais.
Foto: Ana Russi |
A Samburá, felizmente, vai no sentido contrário e preza por um carinhoso tratamento a seus ouvintes. Sua atual formação traz Alexandre Stoll (guitarra), Duda Cordeiro (contrabaixo) e Mário Júnior (bateria), com destaque para Elieser de Jesus nos teclados – cujo desempenho permite constatar que se trata de um bom pianista – e Evandro Hasse em um diversificado naipe de metais muito bem aproveitados. Esses habilidosos músicos se mostraram entrosados e tecnicamente preparados, fazendo um som criativo no qual é possível, inclusive, identificar alguns recursos acústicos identitários da banda – como as linhas melódicas executadas a 2 ou 3 instrumentos, geralmente em uníssono.
Das composições tocadas, gostei muito de Hermeticamente Cipozístico, que homenageia o mestre Hermeto Pascoal, ao mesmo tempo em que alude à Dr. Cipó, banda instrumental de Florianópolis que é referência no gênero aqui no estado.
Boi de Papaia é a música mais inteligente do show, e a que fez o grupo ganhar esta resenha. Eles expõem a qualidade de composição e execução do Samburá em uma inteligente instrumentalização de fraseados e batidas do boi-de-mamão, ao mesmo tempo em que não caem na obviedade de simplesmente reproduzir um ritmo popular.
Inquietação mental fecha o show com chave de ouro. Para tal, o Evandro explica antecipadamente que a
composição se baseia no rush da vida
cotidiana, com suas correrias, sirenes, buzinas e tudo o que urge na nossa
mente. Uma deliciosa paisagem sonora nos interpela e convida a uma certa reflexão
sobre nosso ritmo de vida.
Foto: Ana Russi |
Em conversa com o tecladista Elieser, confirma-se que essa preocupação do coletivo com o público
é recorrente, a ponto de levar a Samburá
a assumir uma nova dinâmica de execução em seus shows. A rotina de
apresentações diárias da turnê O Fim do Começo levou os músicos a
um ponto em que eles estavam enfrentado um certo “tédio” em tocar suas próprias
músicas sempre do mesmo jeito – nas palavras do tecladista, “parecia que
estávamos fazendo cover do próprio grupo”. Em função disso, eles têm investido
nos improvisos, a fim de fortalecer o diálogo musical completo e tornar cada
show único.
Para conhecer mais, acesse o Facebook da Samburá e assista ao curta Samburá,
filhos do Festival de Itajaí, de Marcelo
Cássio B. Silva, que
relaciona a sonoridade da banda com a deliciosa atmosfera da cidade de Itajaí: