Fundação Catarinense de Cultura tem mudanças na gestão da Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural

Alterações ocorrem após denúncia de problemas com a conservação do acervo do MIS. Diretora atribui saída à decisão política

16/09/2014
Por Carol Macário / ClickRBS

A diretora de Preservação do Patrimônio Cultural da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Andrea Marques Dal Grande, bem como a gerente de Pesquisa e Tombamento da instituição, Elizangela Cristina Oliveira, foram exoneradas do cargo na quarta-feira à noite. As mudanças na gestão ocorrem uma semana após uma denúncia feita pela RBS TV de problemas de manutenção no MIS - Museu da Imagem e do Som, como salas com infiltração e acervo malconservado. A reportagem revelou que parte do acervo já estava deteriorado e que obras musicais e cinematográficas raras, doadas há 15 anos, seriam irregularmente transferidas para outras instituições.

Os problemas com o patrimônio em áudio e vídeo do MIS vêm sendo alardeados por técnicos da FCC desde 2011 com pareceres que apontam problemas e indicação de ações para a preservação museológica. Em 11 de agosto, funcionários da Diretoria de Preservação do Patrimônio Cultural solicitaram reunião com a presidente da FCC, Maria Teresinha Debatin, com o objetivo de tratar da Política de Preservação Cultural para o Estado. O documento, a que o Diário Catarinense teve acesso, foi assinado por 17 técnicos da Fundação, entre eles arquitetos, museólogos e historiadores, e destaca a urgência da reunião em razão do "esgotamento do diálogo técnico com a atual Diretora de Preservação do Patrimônio Cultural, fato que tem dificultado o desenvolvimento adequado dos trabalhos desta diretora."

Foto: Alexandre Dias / Rede RBS
MIS fica na área não reformada do CIC

Fundado há 16 anos, o MIS possui cerca de 3.800 peças registradas entre filmes, fotografias, discos e equipamentos antigos. Mas um relatório feito pela museóloga da instituição, Lisandra Felisbino, entregue em julho à presidência da FCC, aponta outros 2.433 itens que não foram catalogados, entre eles discos de vinil dos anos 1950, 1960 e 1970.

O Museu está localizado na ala norte do Centro Integrado de Cultura (CIC), área que precisa passar por reforma. Desde 2009 o prédio inaugurado em 1982 vem passando por obras, nas quais já foram gastos mais de R$ 17 milhões. Há duas semanas, devido às fortes chuvas, uma das salas da instituição precisou ser esvaziada às pressas para que o acervo não fosse danificado.

A reportagem de Rafael Faraco da RBS TV na última semana denunciou a situação e mostrou também parte do acervo guardado em condições ruins na antiga Sala Multimídia do MIS, fechada ao público e cheia de goteiras. Algumas infiltrações poderiam ter sido evitadas com a manutenção básica do prédio, como limpeza da calha.

No lugar de Andrea foi nomeado Vanderlei Sartori. Marta Koerich assume a gerência de Pesquisa e Tombamento. De acordo com Filipe Mello, secretário de Estado de Turismo, Cultura e Esporte (SOL), pasta que comanda a FCC, a decisão pela exoneração foi tomada por Maria Teresinha Debatin, presidente da FCC há dois meses.

Acervo de Zininho

Há 16 anos Cláudia Barbosa, filha de Zininho, doou todo o acervo do poeta — uma parte para o MIS e outra para a Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes. Entre os materiais doados para o MIS está um estúdio analógico no qual seu pai trabalhou até o último suspiro, além de fitas, fitas de rolo e K7, LPS e jornais.

— São materiais desde a década de 1930— afirma.

Em razão dos problemas de conservação do Museu, a cantora agora vai cobrar do Estado um parecer sobre como está a preservação de todo o equipamento doado.

Contraponto

A diretora exonerada, Andrea Marques Dal Grande, afirmou que foi uma decisão política e que seu cargo estava sendo pleiteado há dois meses.

Sobre os problemas do MIS, afirmou que há muito tempo ela e sua equipe estavam pleiteando a reforma do museu, que fazia parte da recuperação da ala norte do CIC. Citou também as mudanças na gestão da FCC e da SOL — foram sete secretários em menos de quatro anos — como um fator impeditivo de investimentos no CIC.

A reportagem tentou contato com Maria Teresinha. Mas ela estava com o celular desligado até o fechamento desta edição e não atendeu às ligações.