17/07/2013
Por Ana Russi
No último sábado, em Jaraguá do Sul, aconteceu a
apresentação do espetáculo Alevanta Boi da Cia. Manipuladora de Formas Etc. e Tal, de Itajaí.
O boizinho e o "palco-carroça" do espetáculo |
A apresentação conta a história de Matheus, que chegou na
praça central da cidade em sua carroça para contar sua história de vida.
Matheus é filho de Catirina e pai Chico, os personagens clássicos da folia do Boi-de-Mamão catarinense. Em outras
palavras, o narrador da história seria um pobre azarado, condenado a ter “cara
de língua-de-boi”, não fosse o velho Francisco enfrentar até seu patrão para
satisfazer os estranhos desejos de sua esposa grávida.
Se você não conhece o folguedo do Boi-de-Mamão, clique aqui
e conheça o auto (apresentação teatral) em torno do qual gira a folia, e cujo
“roteiro” (na verdade, o texto é informal e se preserva na oralidade) é o mesmo
há décadas, com algumas variantes regionais.
No dia da apresentação, fui ao centro de Jaraguá preparada
para fazer a entrevista – ora, um auto de Boi-de-Mamão
na praça principal da cidade não é coisa que se vê com tanta frequência nos
dias de hoje. Cheguei ao local no início da peça e fui pega de surpresa pela
estrutura cênica e o aporte sonoro tão bem preparados. A peça é apresentada
numa espécie de “carroça-palco”, que é puxada por um boizinho. Enquanto o
Matheus conta sua história, essa carroça vira de um lado pro outro, ao som de canções
tradicionais dos folguedos de boi (de todo o Brasil), de forma que a cada
“virada”, uma nova performance de formas animadas se revela. Depois da tal
carroça-palco revelar surpresas por todos os lados, é a vez do boizinho se
libertar e virar um Boi-de-Mamão brincante,
convidando todos a celebrar uma das festas mais bonitas da nossa terra. Só
vendo pra entender como a Cia.
Manipuladora de Formas Etc. e Tal foi detalhista na concepção de um
espetáculo tão bonito, e que fala sobre coisas tão nossas.
Durante a peça, tentei adivinhar quantas pessoas estavam lá
dentro, trabalhando com todos aqueles bonecos e guiando aquela estrutura
compacta, porém complexa. Quase caí pra trás quando o ÚNICO ator, Cidval Batista Jr., saiu debaixo do boi
e agradeceu ao público.
Cidval Batista Jr. e a equipe do SOLO CATARINA |
Tive uma ótima conversa com Cidval, que me contou sobre a Cia. Manipuladora de Formas Etc. e Tal:
ela começou em 1989 por iniciativa de atores que resolveram se aprofundar em
pesquisa corporal e manipulação de formas animadas. Desde 2001, o trabalho com formas
animadas é o carro-chefe do grupo, que hoje já soma 15 espetáculos e vários
prêmios. Além das apresentações cênicas, que sempre acontecem em escolas e
espaços públicos (o que eles denominam de popularização
teatral), a companhia também coordena um ponto de cultura, o NEFA (Núcleo Experimental de Formas
Animadas) que atende comunidades distantes e carentes, oferecendo oficinas
de contação de história e produção de textos. O grupo está em cartaz com o Alevanta
Boi, e o espetáculo Um Dia – este último fundamentado em
três contos populares do sul do país.
Já deu pra notar que a Cia.
Manipuladora de Formas Etc. e Tal não é um grupo convencional, daqueles que
fazem peça em grandes teatros pra vender ingresso e ponto. Então, confira a
entrevista e trechos do espetáculo Alevanta Boi. Você ficará admirado com o trabalho honesto
e inteligente que esse grupo faz pela cultura local: